sexta-feira, 18 de abril de 2008

Nostalgia

Você já teve a impressão de que passa tempo demais no passado? Não é um exercício consciente, mas quase sempre estamos as voltas com coisas que nos marcaram e que continuam vivas dentro de nós. Lembramos de certos fatos com tanta precisão e as imagens aparecem na tela da mente com tanta nitidez que parece que estamos vivendo a cena naquele exato momento.
Eu sei, e acredito, que se passarmos tempo demais no passado (lamentando os erros ou sentindo saudade dos bons momentos) ou se viajarmos muito ao futuro (sonhando com o que teremos, faremos ou seremos, ou que pelo menos gostaríamos de ter, fazer ou ser), teremos muito pouco tempo pra trabalhar o presente, usar as lições do passado e construir realmente um futuro. Mas também acredito que este nosso hábito, quase sempre inconsciente, de voltar aos dias já vividos, pode ser visto e usado DE UMA OUTRA FORMA.
A imagem acima me fez pensar um pouco sobre isso. Existem momentos que a melhor estratégia é uma fuga. Há pessoas que não gostam nem ao menos de pensar nisso, mas aprecio a sabedoria que posso ver naquele adágio que diz "fugir agora para lutar depois". Afinal, existem batalhas que já se anunciam perdidas antes mesmo de começar. Quando o fogo do inimigo aperta, e já não se vêem aliados, não há reforços chegando, deixou de existir comunicação com as tropas, sem auxílio médico, e percebe-se que as linhas de ataque inimigas já estão bem perto, muitos saem da trincheira gritando, atirando para todos os lados, numa tentativa desesperada, só para serem alvejados... Outros abandonam as armas, levantam as mãos e se entregam. Serão prisioneiros...
Embora para alguns a fuga sugira covardia, para outros ela pode ser estratégia. Pode ser a chance de procurar outras batalhas, ou de recomeçar a mesma com outras perspectivas. Para alguns pode até mesmo fazer parte do plano original ter uma rota de fuga pensada. É a corrida desesperada, sem olhar pra trás, por um caminho obscuro, até que se chega ao ponto de segurança, com o peito arfante, os sentimentos confusos e imagens claras dos erros que cometemos...
Uma volta ao passado, quando estamos numa batalha dura e praticamente perdida, pode ser uma rota de fuga para voltar e lutar melhor depois... Quando olho pra esta pessoa se balançando, volto ao passado de um momento seguro. Eu era leve (sem o peso das preocupações e responsabilidades) e era amado (fizeram um balanço pra mim). Nesta fuga não revisito os momentos ruins, mas os gostosos. São lugares que sinto falta, são acontecimentos que me fizeram sentir acarinhado, são fatos engraçados da vida, são rostos de pessoas que amo...
Não fujo pra nunca mais voltar. Programo meu tempo lá nos dias de ontem. Minha máquina do tempo pode ser um velho álbum de fotos, cartas, filmes ou conversas com quem estava lá também. Minha máquina do tempo pode ser uma música que estava guardada no fundo do baú do pensamento. Ativo minha máquia, escolho as datas e os acontecimentos e de lá tiro forças e certezas que me escaparam na trincheira, debaixo do fogo pesado dos desafios, dos fracassos, das palavras impróprias, dos erros e da omissão.
Lá no passado, redescubro meu potencial, lembro que momentos duros já me cercaram antes, e posso sentir de novo o gosto da vitória, pois nos dias de ontem, venci muitas batalhas. Não posso correr o risco de esquecer este sabor... Talvez mais importante ainda, seja lembrar que sofri derrotas, mas que aquele sentimento de dor passou, e que sobraram as lições. No passado, como em uma biblioteca, abro os velhos volumes e releio os passos dados. Não me comparo com outros, mas tenho a oportunidade de me comparar a mim mesmo, e saber que sou forte o suficiente para voltar e lutar...
Depois disso, programo em minha máquina do tempo a viagem de volta. Retorno à batalha alimentado, com munição suficiente, com minha tropa recomposta e com mais conhecimento do terreno. Pode até ser que eu precise fugir de novo, mas uma coisa é certa: em minha cabeça fugir e desistir são coisas completamente diferentes.
Volte ao passado de vez em quando. Volte a ele mas não seja um prisioneiro dele. Use suas melhores lembranças. Balançar em uma árvore firme, sentindo o vento no rosto, e ouvindo o ranger das cordas me lembram que fui (e sou) amado, que existem bons momentos, que tenho potencial e que posso sempre me superar... Basta olhar pra trás e ver as coisas DE UMA OUTRA FORMA... Pense nisto.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A desejada (ou indesejada) fórmula "como fazer"

Não sei dizer a quantidade de livros que encontrei em minha última visita a uma livraria, que traziam em seu título a fórmula "como...". São dezenas de manuais de faça fácil, que seguem a linha como fazer, como organizar, como obter, como entender e outros. Parece haver um público sempre ávido por este tipo de informação, na maioria das vezes direta, e aparentemente de fácil aplicação. Alguns parecem acreditar que estes compêndios são realmente fórmulas mágicas, remédios de ação imediata. Alguns livros chegam mesmo a parecer um manual daqueles que acompanham os produtos eletrônicos, tão objetivos, diretos e sequenciados.

Entendo que para aqueles que são atormentados por um estilo de vida do qual se sentem prisioneiros, ou para aqueles que desejam mudanças reais no trabalho, na forma de estudar ou no jeito certo para realizar algo, estes livros possam ser um bom indicativo de um caminho a seguir. Há também aqueles que precisam ouvir, de alguma fonte segura, que existe solução possível para suas angústias e desejos, e entendo que existem entre estes livros, muitos que são escritos com base em um boa experiência de vida e em valores e princípios seguros.

A fórmula "como fazer" desejada por muitos, e indesejada por outros, talvez seja a maneira de tentar DE UMA OUTRA FORMA. Alguns estudiosos não gostam destes manuais, os classificam com auto-ajuda, como simples camuflagem para os problemas. Claro, além dos livros desta linha que realmente nada acrescentam, é preciso tomar cuidado. Dicas, exemplos, histórias motivadoras, boas idéias e exercícios válidos que os autores apresentam não são, em nenhum caso, substitutos para o aprendizado concreto, para a reflexão profunda e para a experiência de vida. Aprendemos vivendo, fazendo, errando... Mas com boa dose de equilíbrio e bom senso, estes escritos não são nenhum veneno.

Selecione bem os autores. Claro, existem muitos assuntos que não interessam a todos, então, selecione o que lhe interessa. Seja crítico. Só pelo fato de ter escrito um livro, o autor não é dono da verdade. Faça um exercício de reflexão sobre a época, o contexto e a cultura. Muitas coisas funcionam tão bem aqui como no Japão, outras não. Use seu discernimento.

Pense em quantas vezes usamos, e em quantas vezes ensinamos muitas coisas com esta fórmula. Pra muita gente, elas são muito importantes, e para muitos autores, elas são o fruto de um trabalho feito com amor. São apenas diferentes dos nossos livros científicos, e são um pouco mais reais do que nossos livros de ficção, de literatura. São auxilios, são presentes, são dádivas que nos são dadas DE UMA OUTRA FORMA. Pense nisto.