segunda-feira, 13 de abril de 2015

Como vou respeitar meu filho

Filho, está na hora do almoço. Do alto de seus três anos de idade, ele olha pra mim e diz, sem perder o foco do que está fazendo – “Non, non, non. Muito obidado”. Ele é um garotinho cheio de atitude. Me encantam as posições firmes e decididas do meu pequeno. Ao chegar de um passeio ou ao retornar da igreja pra casa, paro o carro e a mãe diz “Chegamos!”, ao que ele responde prontamente: “Non quéio chegamos”.
A tenacidade aumenta proporcionalmente ao aumento do vocabulário. Agora, quando quer algo ele diz, “Pai, eu quero muuiiiiiiito”, com toda esta ênfase, e termina a frase com um “por favor” tão suplicante que fica difícil resistir. Quando o filho diz apenas um “vamos jogar bola”, assim num tom mais imperativo do que convidativo, talvez seja mais fácil para um pai apaixonado dizer um “agora não”. Mas quando ele usa de uma estratégia doce, (que eu não sei onde aprendeu) e diz “Papai, você pode jogar bola comigo, por favor?” é bem mais difícil recusar... E esta frase ele diz assim mesmo, com a correta pronúncia de todas as palavras, e isto dito em sua voz infantil, adquire um tom de carência com enorme poder de convencimento.
Outro dia, ele pediu várias vezes para passear. Dissemos a ele que não era o momento, e que depois iríamos. Mas ele não se deu por vencido. Pediu, e usou o recurso do “eu quero muiiiiito”. Não funcionou. De cabeça baixa, ele usou o “por favor”. Também não deu. Alguns minutos depois ele disse assim: “Papai, quéio fazê Papai do céu.” Meio que admirado e feliz, respondi que sim, e que bom que ele queria orar. Me ajoelhei com ele, perto da mãe e de alguns amigos. E ele orou assim:
- Papai do Céu, eu quero passear. Amééém!
Tive que reconhecer que meu pequeno sabe a quem pedir as coisas. Percebi também que ele já está dominando a arte do “como pedir” e do “momento certo”. Não me pareceu, em nenhum momento, uma chantagem, mas sim a perseverança de um garotinho que deseja algo muito, e que ainda não conhecendo nada sobre conveniência e convenções sociais, luta por aquilo que quer.
As posições firmes de meu filho e suas vontades e desejos perseguidos com afinco foram gatilhos que me fizeram pensar na enorme responsabilidade que tenho, enquanto pai, educador e amigo, de respeitar meu filho e seu jeito de ser. As decisões dele não são as que eu tomaria. A forma como ele sente o mundo é diferente da minha, e o gosto que ele tem por algumas coisas e por algumas atividades não são sempre os mesmos que eu tenho. E justamente por causa destas diferenças devo respeitá-lo para não sufocar sua identidade. Preciso ensinar a ele limites, coerência, caminhos, ética... Mas preciso fazer isso respeitando a pessoa única e determinada que ele é. Então, me veio à mente a pergunta crucial: Como vou respeitar meu filho? Procurei pensar numa resposta ampla, profunda e verdadeira, buscando em Deus sabedoria para esta missão. Como é minha proposta pensar em questões como esta DE UMA OUTRA FORMA, quero dividir com vocês o que consegui construir em dez pontos-chave. Vamos lá?

1.      O primeiro ponto é entender, ainda que minimamente, a palavra respeito. De forma geral, por definição, respeitar é tratar uma pessoa com reverência ou acatamento, e mesmo honrar o que ela é, representa ou faz. Quanto respeitamos, damos atenção ou importância, consideramos o outro. Também por definição, entendemos o ato de respeitar como não agir contrariamente a uma decisão, orientação ou regra que são, ou estabelecidas pela cultura, ou pelos outros dentro de seus direitos, ou ainda negociadas e acordadas entre partes. Respeitar, portanto, é acatar, e por isso, agir de modo que nossa ação não fira e não magoe alguém ou destrua alguma coisa. Ter respeito (e oferecer respeito) é admitir o valor. É bem diferente de tolerância, de suportar os desmandos e descasos intencionais de outros, mas de entender que eles têm direito e espaço para tomar decisões pessoais, mesmo que consideremos que estejam errados ou em desacordo com nosso entendimento do que é correto, e que entendamos que sofrerão consequências. Isso não nos impede de admoestar, de alertar e de até mesmo coibir e punir, quando dentro de nossas possibilidades e entendido como nossa responsabilidade de oferecer proteção e correção (no caso dos pais e tutores). Isso porque respeito tem ligação com fidelidade e compreende as noções de confiança e de agir honestamente. Também tem ligação com relevância e com a consideração. A etimologia sugere, em sua raiz vinda do Latim, a ideia de que uma pessoa merece um segundo olhar ou tem qualidades que devem nos levar a uma atitude de consideração e reverência. É assim que desejo respeitar meu filho.

2.       Respeitar como parte de mim. Todos merecem respeito, e quanto mais aquele que é mais passível de ser magoado por minhas ações por ter uma ligação tão próxima comigo. Entendo que numa relação pai e filho, o respeito ao filho é uma extensão de meu respeito próprio. A afirmação de meu valor, com estima equilibrada, a compreensão de minha importância como pessoa, a busca honesta da realização de meus sonhos e a correta visão de meus direitos e deveres e, por fim, a crença sincera de que sou amado por Deus e por minha família me capacitam a respeitar meu filho como a pessoa completa que ele é. Assim como não gosto de ser ferido, contrariado, magoado ou desconsiderado, não farei isso a ele. Ainda mais quando os motivos forem tão pequenos, como um brinquedo esquecido no chão da sala ou um pouco de suco derramado no sofá. Em função da ligação forte entre nós, seguir a regra de ouro é essencial: respeito meu filho como gostaria de ser respeitado. Como ele é parte de mim, se não o respeito também sofro, em mim mesmo, o desrespeito que ele sofre.

3.       Ritmo e Resignação são dois aspectos muito importantes para que meu filho seja respeitado devidamente. Independentemente de ser criança, meu filho tem (e sempre terá) seu ritmo próprio para aprender e agir. Um de meus maiores desafios enquanto pai é o de andar no mesmo passo enquanto estiver ensinando. Ele às vezes vai depressa demais, e eu quase não consigo acompanhar seu ritmo alucinante quando brinca, conversa, interage e se desenvolve. Outras vezes as coisas me parecem lentas demais, e sou tentado a “empurrar” meu menino em um aspecto ou outro (o que acaba sendo frustrante para ele e para mim...). O melhor que posso fazer é estar resignado quanto a isso. Resignação não é acomodação ou desistência, mas um tipo especial de paciência que devemos desenvolver e que se aplica na espera, com calma, diante das dificuldades e na aceitação, com dignidade, das impossibilidades. Quando olho para meu filho brincando do seu jeito (tão diferente do meu), aceito com resignação seu ritmo e seu estilo, e passo a entender que amo meu filho (o que ele é) muito mais do que meus sonhos de como ele deveria ser. Isso, conforme entendo, é respeito.

4.       Entender bem os limites e o espaço é um ponto diretamente ligado ao fato que acabamos de discutir sobre o ritmo, porque tem ligação com a potencialidade e individualidade de meu filho. Quando falo de limites, me refiro não só a colocarmos termos para o que pode ou não pode ser feito, mas também aos limites impostos a ele por sua compreensão e maturidade, limites estes que devem ser ampliados constantemente, tanto de forma natural como através de estímulos e investimento dos pais no desenvolvimento das crianças. Em função destas limitações da maturidade, não estou verdadeiramente respeitando meu pequeno se lhe imponho um castigo por coisas que ele ainda não compreende, que estão fora de suas concepções de bem-estar, de decoro e de sociabilidade. Como posso me zangar e me frustrar com um almoço demorado e comida espalhada em volta do prato, da mesa e em suas roupas, quando ele ainda está lutando para obter uma coordenação motora que levei anos para desenvolver e ainda não domino perfeitamente em muitas ocasiões? Não há respeito de minha parte em descarregar minha frustração e raiva por brinquedos espalhados e eventuais paredes riscadas, pois afinal de contas, meu filho é uma criança! Não posso castigar uma criança por ser criança. São limites (diferentes daqueles que impomos pela segurança e pela conveniência social e boa convivência) que meu filho ainda não consegue vencer. Entender isso (e esperar que ele amplie seu domínio) é respeitar. E isso envolve o espaço que ele ocupa, seus locais de exploração e de vivência. É neste espaço que ele experimenta as sensações, que ele treina sua movimentação e onde tem o direito de errar, quebrar, retornar e se acomodar. Meu filho precisa de espaço para ter seus pertences, suas coisas e praticar suas ações (como criança ou como adulto). É neste seu lugarzinho no mundo (que pertence a ele), que pode ser representado por um quarto, um cantinho da casa ou um baú de brinquedos, que os limites de compreensão e maturidade são ampliados, e aqueles outros limites, os de segurança e comportamento são estabelecidos. Pisar neste espaço com cuidado, como convidados e não como invasores, é um ato de respeito que todos os pais devem cultivar.

5.       Sentimentos e sensações são, indiscutivelmente, um ponto onde o respeito deve ser efetivo. Todos temos o direito de gostar e não gostar. No que diz respeito às pessoas, embora o imperativo do amor seja essencial para uma vida plena de significado e de ligação com Deus, meu filho precisa aprender isso através de exemplos e com o tempo. Não o estou respeitando quando peço que ele demonstre apreciação forçada por alguém que o deixa desconfortável naquele momento (ainda que seja um tio querido ou a vovó) ou quando exijo que passe tempo ou interaja com meus amigos como se fossem os amigos dele. Da mesma forma não demonstro respeito quando faço críticas à sua tristeza ou decepção por “coisas pequenas demais” ou quando desaprovo seu apego ou estima a um colega de escola ou a uma professora querida. Ele deve poder expressar e direcionar seus sentimentos com liberdade. Assim como deve ter liberdade para vivenciar suas sensações negativas de medo, insegurança e desconfiança tanto como esperamos que ele vivencie as boas sensações de prazer, realização e entrega.

6.       Considerar com cuidado a questão dos princípios faz parte do processo de respeitar meu filho. Este é o ponto que revela a visão maior que devemos ter quando falamos de respeito. Princípios são as leis universais, inegociáveis e imutáveis que devem funcionar como nossa bússola interna. Orientado por eles conseguimos verdadeiramente discernir entre certo e errado e viver uma ética profunda e profícua. Quando me oriento por princípios sólidos, como Deus deseja que eu faça, é quando estou em melhor condição para respeitar aos outros. Pais orientados por princípios não respeitam seus filhos apenas por norma e condicionamento, mas por fé e amor, oferecendo a eles um respeito maduro, centrado em uma proficiente filosofia de vida que garante pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Em suma, quem não é respeitado de forma verdadeira (por princípio), terá imensa dificuldade em crescer, em se desenvolver, em se respeitar e, consequentemente, respeitar aos outros. Não quero isso para meu filho, por isso eu luto para respeitá-lo profundamente.

7.       Respeitar educando e ensinando. É um ponto ativo, já que nossos filhos precisam ser orientados e apresentados aos princípios. Eles precisam aprender a identificar estes princípios, e também devem ser iniciados na disciplina do respeito: devem aprender a respeitar na prática. Isso é um processo, então pode começar de forma procedimental, demonstrado nos pequenos gestos, no aprender a falar baixo em certos ambientes, no cumprimento cortês, muitas vezes ensaiado, nas palavras de agradecimento esperadas em retribuição a uma gentileza, até que interiorizado se torne um comportamento habitual, desejado e valorativo. Precisamos ensinar nossos filhos a escolher como agir, e não apenas a reagir. Eles precisam saber escolher e precisam aprender a entender o mundo. Faremos isso melhor através de exemplos e por preceitos sólidos. Ensinar respeito é ensinar mutualidade, conceito que hoje escapa à compreensão de nossos pequenos, mas que amanhã será um dos maiores recursos para que sejam felizes e plenos. Eles respeitarão e cobrarão o devido respeito de forma firme e educada porque foram educados por pais respeitosos. Desejo viver esta realidade, e você?

8.       Cuidar das intenções e inclinações. Eu as tenho em uma medida e meu filho em outra. E lidar com a intencionalidade é algo melindroso. Nossas ações (ou o resultado delas) nem sempre afirmam a intenção que as motivou. Já sabemos bem o que dizem por aí sobre as boas intenções... Mas, por outro lado, é muito importante trabalhar bem a questão da intencionalidade em relação aos filhos. Quando julgamos conhecer as intenções do outro podemos errar grandemente. Nenhum pai deveria pensar que o filho erra e cria algum tipo de situação problemática com a intenção de fazê-lo. Não quero e não vou pensar que meu filho está fatalmente inclinado a ser desobediente, arrogante, irresponsável... Claro que errar sem a intenção não minimiza o erro e nem atenua as consequências, mas entender que muitos erros acontecem por inexperiência, por falta de orientação ou mesmo por pouca consideração das consequências (que é normal nos mais jovens) ajuda a trabalhar a correção e o aprendizado que os erros trazem com uma mente mais aberta e um coração mais tranquilo. Tenho procurado afirmar a meu filho seu caráter positivo e suas melhores características enquanto o corrijo em seus erros e desmandos. Quando ele me desobedece não digo “Puxa, como você é desobediente.”, como quem vaticina que ser desobediente é seu destino, pois é essencialmente o que ele é. Ao contrário, digo que aquela ação me entristece e desagrada, e que não combina com ele, justamente por ele ser um garoto bom e obediente. Tenho entendido que atribuir a ele uma intencionalidade e uma inclinação prévia para a desobediência ou para o mal, e julgá-lo sem ouvi-lo é um ato de desrespeito que não quero cometer enquanto pai apaixonado...

9.       Considerar o tempo atual (momento do tempo em que vivemos) e sua diferença gritante com o passado é essencial para que exista respeito verdadeiro entre as gerações. A época em que meu filho vive traz consigo uma cultura (jeito de vestir, fazer, conhecer e sentir) e uma visão de mundo que lhe fornecerão percepções bem diferentes das que eu tive quando tinha a idade dele. Isso implica em que, por muitas vezes, aquilo que me encantava enquanto menino (brinquedos, atividades, lugares, histórias...), pode não ter efeito semelhante sobre ele hoje. Ficar dizendo “no meu tempo” e tentando fazer com que meu filho sinta e viva da mesma forma, representa não só uma incapacidade de me conectar integralmente com o momento atual, como também um desrespeito ao fato de que meu filho é um ser do presente, com uma verdade presente, mais ampla e mais completa do que aquela que me servia de orientação. Sou eu quem precisa de ajuste com o tempo de hoje, e não ele quem deve ser ajustar com o tempo de ontem. Uma coisa é aprender com as lições do passado e com a história (e transmitir isso aos filhos) outra coisa é viver no passado, em desajuste com o contexto. Assim, (vivendo no presente) todos os muitos anos de minha vivência podem ser um fator de auxilio no meu relacionamento de pai e educador, que tem experiência de vida, me fazendo respeitar meu filho. Caso contrário, viverei em conflito por insistir em viver em um tempo que já não existe mais. Preciso respeitar meu filho no tempo em que ele vive, sem medo das mudanças, pois estaremos ancorados na solidez dos princípios.

10.   Respeitar embasado no AMOR (expressar amor com respeito e demonstrar respeito com amor) será um ato que trará muita satisfação e muito aprendizado. Com base nisto meu filho aprenderá a viver uma troca saudável, entre ele e os outros, de admiração, cortesia, amabilidade e proteção.  Sendo respeitado em amor meu filho aprenderá a praticar a mutualidade. Fazendo isso, ele estará cumprindo a regra de ouro que Jesus ensinou no sermão do monte (Mateus 7:12), algo tão sublime e necessário à vida plena e alegria. A regra de ouro é um tesouro conhecido e reconhecido por todas as religiões e filosofias de vida plena, e é resultado direto e ao mesmo tempo ação prática do RESPEITO. É assim que quero respeitar (e ensinar) meu filho.

Resiliência e respeito próprio. Se eu não respeito meu filho desde sua mais tenra infância ele pode acabar não respeitando a si mesmo. Se algum pai não praticou o respeito desta forma, precisa recuperar seu respeito próprio e devolver aos filhos todo o respeito que eles sempre mereceram...
E já que falei em merecer, devo dizer que não sei se concordo plenamente (ou se concordo de alguma forma) com a ideia de que meu filho deve conquistar meu respeito. Penso que nascemos merecendo respeito. Assim, entendo que meu filho não precisa conquistar nada. Como pai, eu devo respeitá-lo. O amor que sinto por ele já deve garantir a meu filho todo o meu respeito. Visto desta forma, respeitar é uma escolha consciente que faço e uma atitude firme que devo seguir ao agir, ao me relacionar e ao educar meu filho. Ser respeitado desde cedo ajuda a pessoa a escolher agir na mesma base em relação a todos os seus relacionamentos, tornando-os mais ricos. Então, meu filho não conquista meu respeito, mas suas ações, quando respeitado e estimulado, conquistarão, a cada dia, minha admiração e ampliarão ainda mais o respeito que decidi dar a ele.

Quando entendi que Deus entregou Jesus em uma cruz para que eu pudesse ser salvo, mas mesmo diante de um sacrifício tão grande e intenso, me permitiu aceitar ou não sua ação em meu favor, descobri um amor incompreensível, e pude perceber como este Deus maravilhoso me respeita, apesar de minha imperfeição. Como pai apaixonado, decidi respeitar meu filho nesta mesma base, tentando imitar ao máximo a sublimidade do amor de Deus por mim. Convido você a fazer o mesmo. Pense nisto.

sexta-feira, 27 de março de 2015

O Amor e as pessoas venenosas

Uma vez ouvi dizer que remédio e veneno podem ter a mesma origem, serem feitos da mesma substância, diferindo apenas na quantidade... Em relação às pessoas (todas elas, incluindo eu e você) no que diz respeito aos atos e atitudes, esta afirmação também pode ser aplicada – ou elas nos curam de nossas feridas com suas palavras e gestos, ou destilam um veneno mortal que pode nos fazer padecer dores incríveis até que venha a morte do sentimento, da relação e mesmo o fim da vida...

Porém, de forma sincera, gosto das pessoas. E procuro gostar mesmo quando “não gosto” delas por conta deste tal veneno. Eu me explico: este “não gostar” torna possível que uma relação inamistosa, que surge em um momento onde atitudes equivocadas são tomadas, crie oportunidades para que eu aprenda mais sobre mim e sobre os outros, e que cresça no entendimento de minha humanidade e necessidades. Pode até ser, neste exercício, que eu descubra motivos que me levem a gostar, de alguma forma, das pessoas de quem não gosto, ou com quem eu esteja magoado, mas com as quais preciso conviver. (talvez uma forma de criar um soro, um antídoto...)

Uma relação assim, com o tempero da animosidade, cria também a oportunidade para que eu supere minhas inclinações e motivações egoístas, e procure conquistar estas pessoas e tê-las perto de mim como amigas, sinceramente, apesar de suas características distintas que não me agradam (ou das minhas que não agradam a elas), transformando positivamente, desta forma, minhas percepções, minha visão, o ambiente e o relacionamento, mesmo que a outra pessoa não mude. Pode até ser que no fundo eu não consiga gostar delas tanto quanto queria (e nem elas de mim), mas vou, com certeza, gostar mais de mim... E tudo isso não é nada fácil.

Trabalhar numa postura de perdoar de verdade, ainda que não seja fácil, é um elemento essencial para que a gente possa gostar. Alguns momentos de dor são causados por palavras impensadas ou por falhas que cometemos uns com os outros, e em muitos casos por diferenças de personalidade e formas distintas de educação. Mas, em outras vezes, a dor é causada por atitudes egoístas e cruéis, tomadas simplesmente pela conveniência própria, desconsiderando outras pessoas e suas necessidades. Isso não torna a pessoa, de imediato, em uma personificação do mal, mas dificulta o gostar. Perdoar, portanto, é uma implicação de nosso dever de amar, mesmo quando o outro está (e continua) procedendo mal.

Devo reconhecer, porém, que existem pessoas com um poder tóxico tão incrível que é preciso ser verdadeiramente muito forte para resistir à peçonha do mau humor, ao azedume das ideias e à amargura das palavras que elas proferem. Estas pessoas convivem conosco e, cotidianamente, emitem opiniões cruéis e impensadas, exalam o odor da não aceitação e, incoscientemente, envenenam a relação de coleguismo ou de amizade pouco a pouco, até matar a confiança e o prazer de estarmos próximos a elas...

Pessoas beligerantes assim, não escolhem adversários nem aliados. Atiram indistintamente em todas as direções, usando a munição das palavras que ferem, dos comentários maldosos, da imposição de suas necessidades e verdades, e muitas vezes nem sabem que estão em guerra com os outros, com aqueles que tentam conviver no mesmo ambiente que elas da melhor maneira possível. Não sabem o porquê de sua amargura e não fazem ideia de que sua visão única e absoluta da “vida” precisa ser urgentemente relativizada...

São vaidosas demais, arrogantes demais, egoístas demais, teimosas demais... Sentimos-nos invadidos, desrespeitados e enganados por elas. Mentem mesmo sem querer mentir, pois sua “verdade” só se aplica a elas, e sua mente só retém lembranças daquilo que lhes convém. Elas nunca ouvem o que é dito, mas sempre o que querem ouvir... São pessoas que se tornam cada vez mais difíceis de gostar... E por incrível que pareça, sempre têm perto de si alguém que apoia (ou parece apoiar) suas atitudes.

Elas podem ser parte da família ou amigos muito chegados, o que torna ainda mais difícil entender o porquê de suas ações equivocadas, sem contar que essa proximidade nos coloca como obrigação o exercício de gostar delas. Ficamos nos perguntando quando elas se tornaram tão difíceis, ou então como nunca percebemos isso... Mas pessoas assim também podem ser ilustres desconhecidos, que nos ferem através de suas ações, indireta e inconsequentemente, o que torna mais fácil ter raiva, desejar que paguem por nos incomodar, retribuir na mesma moeda e até mesmo odiar. Como elas fazem isso? Através de pequenas ações, como furar filas, ocupar duas vagas em um estacionamento lotado, marcar lugares em auditórios nos privando de sentar onde desejamos e temos direito. Elas também conseguem isso sendo irônicas, ouvindo som alto no apartamento ao lado até a madrugada... Centenas de pequenas ações, que não deixam de ter grande importância no final das contas, e que servem de verdadeiro veneno para as relações amistosas, cordiais e fraternas que somos chamados a viver...

Um grande passo que desejo dar é o de me tornar cada vez mais imune a estas pessoas e ao seu veneno. Só assim consigo estar perto delas sem sofrer os efeitos de sua acidez, sem sucumbir ao impacto de seu egoísmo e sem me envenenar com o fel de seus entendimentos e sentimentos equivocados. Só assim conseguirei gostar delas, o que é difícil, e tentar fazer o que é ainda mais improvável: que gostem de mim.

Afirmo que seja improvável que gostem de mim, porque no fundo, todas as características negativas destas pessoas, além de serem em si mesmas um impeditivo para a prática do gostar, são amplificadas pela lente dos meus sentimentos, por minha visão particular de justiça, por meus anseios pessoais e pela visão diminuta que tenho dos meus defeitos. Isso me torna, assim como elas, difícil de gostar. Pessoas tóxicas podem ser apenas um reflexo meu (um reflexo nosso.). Só eu sei o quanto posso ser difícil de se gostar...

Muitas vezes, porém, tudo o que é preciso é um novo olhar. Talvez um olhar mais condescendente, ou quem sabe mais compreensivo sobre os motivos, medos e anseios, visão e até ignorância dos outros. Vendo as coisas DE UMA OUTRA FORMA, talvez possamos fazer algo por nós e pelo próximo.

Ame ao próximo como a si mesmo... Este mandamento divino faz a gente pensar, não é? Em uma visão pessoal, e muito minha, acredito de coração em uma distinção que tem me ajudado muito – a distinção entre AMAR e GOSTAR. Aprendi e passei a entender que amar ao próximo é um princípio, um mandamento. Amar ao próximo é fator de aceitação da graça de Deus, e desejo intenso de ser bom, de ser melhor. Não preciso conhecer intimamente alguém para amar neste nível, e nem preciso achar alguém bonito, simpático, maravilhoso ou ficar embevecido na presença de uma pessoa para amá-la. Amar é exercício prático gerado pela obediência! Amar se traduz em ajudar, em doar, em aconselhar, em alimentar, em disciplinar. Amar é um verbo! Se é verbo é expresso na ação de praticar o bem, de viver o AMOR substantivo que é a expressão do próprio DEUS. Preciso amar meu próximo como a mim mesmo, independentemente de quem ele seja ou do que faça (ou não faça) em relação a mim.

Gostar é algo mais leve, em minha opinião. Gostar implica em desejar estar junto e em ter prazer na companhia. Acontece rápido e pode passar rapidamente, caso não tomemos o devido cuidado. Não é regido por uma lei, e simplesmente acontece. É um ato de considerar algo ou alguém aprazível. Envolve apreciar, sentir que a presença do outro é algo que traz sabor à vida. Gostar envolve admirar sem pretensões e sem cuidado! Gostar faz com que sintamos um misto de saudade, carência, aceitação, desejo de abraçar e de se doar e de desfrutar profundamente tudo isso. Gostar é como o “amor amistoso” e altruísta que a palavra grega Phileo traz em seu significado. Quando gostamos profundamente, o carinho brota, sentimos afeto e afinidade, e passamos a compreender as inclinações e motivações... Amar, enquanto princípio, é ordem, mas o gostar é uma expressão mais leve do amor que, sentido e expresso, acaba correspondido. Precisamos aprender a gostar e a exercitar nossa ação de gostar, para que possamos chegar ao amor perfeito, que nasce do amor mandamento, que internalizado se torna amar (o exercício do amor) em princípio...

Para entender (e viver) o amor perfeito é preciso levar em conta uma mudança de padrão. De amar ao próximo como a nós mesmos, que é mandamento, devemos evoluir para o amar uns aos outros como Cristo amou, que é novo mandamento, princípio aprimorado que não descarta a importância do primeiro, mas o complementa e lhe empresta ainda maior significado. Para mudar o padrão é preciso mudar a mentalidade. Deus amou o mundo (indistintamente) e Cristo nos amou sendo nós ainda pecadores (indistintamente). Não consigo deixar de acreditar que Deus “gosta” de nós primeiramente de forma leve, sentindo o prazer da companhia e o vazio da saudade, e por isso (desde sempre) nos ama em princípio, essência e doação (Porque Ele deu Seu Filho) total.

Diante disto tudo entendo (e novamente deixo bem claro que é um pensamento muito particular, uma opinião, uma ideia pessoal e não uma afirmação absoluta. Esta posição não por base de um estudo profundo, mas é apenas uma tentativa de ver as coisas DE UMA OUTRA FORMA, e posta aqui como um desejo de compartilhar reflexões que talvez ajudem você a tecer também suas considerações e repensar suas necessidades pessoais na área da expressão do amor) que podemos até não gostar de alguns, mas devemos amar a todos. E devemos amar por princípio, de forma intensa e diária, até que no exercício da retribuição, passemos a gostar e a viver o amor verdadeiro. Entendo também que algumas pessoas teremos por perto, tanto por desejo quanto por princípio, porque retribuirão (tento sentido o mesmo que nós) e tanto eles quanto nós seremos transformados por uma renovação de mentalidade e por uma expressão viva de amor e de gosto. Mas, alguns outros (quando chegar o tempo em que as escolhas serão definitivas e irrevogáveis) manteremos longe, ou deveremos fugir deles, como indica a Bíblia, em função do veneno (consubstanciado em falso amor) que escolheram destilar (2 Timóteo 3:5)


No fim, penso que o exercício do amor verdadeiro é primeiramente bom para mim. Ele me transforma de tal maneira, que de forma bem gostosa, passa a ser bom para os outros. Quando isso ocorre em vários corações, temos o dom maravilhoso da retribuição. Pois não é isso que a Bíblia diz sobre o amor de Deus? (1 João 4:19). Pense nisto!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Homenagem a quem sabe amar

Vivendo o sonho.
(coisas boas quando se tem irmãos)


Sinceramente eu não sei o que os felizardos que têm irmãs e irmãos pensam ou fazem para agradecer este dom. O que sei é que consigo pensar uma enorme lista de coisas boas que acontecem quando se tem irmãos. Ter um irmãozão do lado, pra proteger e pra contar é algo excepcional! E posso estar errado, mas uma irmã é muito mais cúmplice do que um irmão (salvo as exceções). A alma feminina sabe muito bem como cuidar de um meninão, e dizer exatamente o que ele precisa ouvir, seja um reconhecimento, um conselho ou um bom puxão de orelha. E em minhas observações da vida, vejo que muitos dos felizardos que eu citei acima não estão aproveitando ainda o presente que é ter uma irmã ou um irmão. Queria tentar dividir isto com vocês DE UMA OUTRA FORMA...

            Eu queria ser diferente, e aproveitar ao máximo... Descobri infelizmente, que é uma triste tendência nossa (da espécie humana) não dar valor ao que é mais valioso. De vez em quando, um choque desperta o cérebro, e aí nos corremos pra dar atenção, pra desfrutar da companhia, pra dar e ouvir conselhos, mas logo a gente se envolve com a rotina de novo, e os bons momentos precisam de mais uma descarga elétrica para voltar ao foco. Se eu posso fazer um pedido, será esse: seja a pessoa que liga a chave geral de vez em quando, tá? Não deixe as pessoas que te amam se envolverem com a enfadonha rotina a ponto de  não sair pra tomar um sorvete com você. Ligue a chave e dê um bom choque nelas. Diga “Ei! Eu estou aqui.”  Ligue, grite, passe desfilando na frente delas. Percebi que a gente não deixa as pessoas por que deixa de amar, mas porque ama demais pra julgar que elas um dia possam se afastar de nós... Assim, antes que isso aconteça, dê choques e se ligue na corrente, para que aqueles que amam você e aqueles a quem você ama (e tomara que tudo isso seja uma grande reciprocidade de amor) possam sempre ser eletrocutados, no bom sentido, é claro.

            Por causa destes choques que bondosamente Deus permite que aconteçam, posso viver o sonho, e essa é a melhor parte. Há inúmeras coisas boas em se ter irmãos. Vou mencionar algumas aqui, explicando aquelas que em consigo, e deixando claro desde já que algumas destas coisas boas, eu só consigo sentir. É como aquela história de comer uma sobremesa bem gostosa. Você não consegue descrever o gosto, a sensação que tem com o paladar, mas as pessoas que vêem você à mesa, percebem que você está sentindo a delícia do sabor e que está desfrutando cada colher (e alguns até ficam com uma pontinha de inveja). Assim, posso descrever a beleza de uma paisagem, mas só eu posso sentir o que é estar lá...Bom, então vamos lá. Coisas boas que acontecem quando se tem irmãos:

J Confidência – Não acho que devia ser assim, mas infelizmente o mundo nos condiciona a guardarmos as coisas que não nos fazem bem. Se você demonstra tudo o que sente, se é sincero quanto a suas dúvidas, sem tenta resolver suas mágoas, você foge do padrão. As pessoas ficam atemorizadas com você! Ninguém está preparado para ouvir seus problemas, suas angústias e sua incerteza. E nós aprendemos isso, e bem. Para não parecer fraco, inconstante, anormal, nós guardamos dentro do peito muito do que passamos, e isso muitas vezes dói... Opiniões e idéias também não são fáceis de se mostrar. Os que têm coragem de persistir depois da crítica destrutiva são verdadeiros heróis... Mas a gente precisa tanto de alguém que nos ouça sem pensar que nós e nossas idéias, frustrações, erros e medos são uma coisa só... Precisamos também de alguém que confie em nós, que nos dê de presente, com traços de sua vida, com seus problemas e sonhos, a certeza de ser escolhido. Precisamos que nos façam sentir que temos como ajudar, como participar, como demonstrar amor. Quando alguém nos confidencia algo, ou quando escuta nossas  confidências sem máscaras ou intenções, sem prejulgamentos, estamos ganhando um presente    maravilhoso do céu. Esta é uma coisa fantástica que ter irmãos proporcia:     confidências. Posso ouvir e  posso falar, com plena certeza de que estou diante de alguém que confia em mim e em quem eu posso confiar...

J Companhia – Somente que já ficou sozinho (de verdade) sabe o valor de ter alguém do lado, pra falar sério ou contar piada, pra falar sobre a complexidade da vida ou sobre como está o tempo, ou até mesmo pra rir um do outro ou de algo engraçado que vem à mente, ou mesmo pra ficar ali, sentado sem dizer nada, nada, nada... Aquela companhia ativa, que se envolve, pergunta, comenta, discorda, complementa e incentiva. Aquela presença que conforta, como quando a gente é criança e tem medo do escuro, e grita pela mãe. O escuro continua lá, mas o respirar da pessoa ao lado nos dá a segurança de não estar sozinho. Companhia que antecipa a saudade, e que desperta a ação do dar, do importar-se, do sentir e do envolver. Alguém pra quem ligar e não dizer nada, mas ser ouvido como se dissesse tudo... Alguém pra quem comprar cartões de natal, e pra comprar junto com você os cartões de natal de outros. Presença marcante quando por perto, e presença confortante quando longe, que mesmo ausente é companhia. Vantagens de se ter uma irmãos especiais...
J Ajuda – Mão na massa, na tinta, no papel... Mão que empurra, que puxa, que repreende. Não dá pra fazer tudo sozinho, mas também há momentos em que não se pode simplesmente pedir ajuda. Ela tem que vir, oferecida, insistente e, mais importante, de forma confiável. Meus irmãos tem sido assim, uma ajuda para fazer as coisas acontecerem. E este tipo de auxílio não critica, não condena. Ainda que não entenda bem o nosso modo de fazer, ajuda. Ainda que veja que talvez exista outra forma daquilo ser feito, compreende a importância que o projeto tem, e ajuda. E também, neste sentido, meus irmãos tem sido um presente. E por falar em presente, na questão da ajuda, é uma vantagem poder ser ajudado, mas é ótimo poder ajudar e com isto sentir-se útil. Coisas boas de se ter irmãos.
J Referência – Não é bom estar perdido, e entre as sensações pouco agradáveis desta vida, não ter ideia de onde se está e nem do que fazer é uma sensação que ocupa um lugar de destaque. Nesta hora é bom ter uma referência, um marco pra indicar caminhos, alternativas, possibilidades. Muitas vezes uma pessoa querida é uma referência, que nos faz ver que temos valor, que somos apreciados, que podemos nos direcionar de novo. Uma pessoa que faz parte de sua vida lhe faz rever o passado, dizendo de onde você veio, e com isso ajuda a visualizar o futuro, lhe dando a referência de quais caminhos você pode tomar. Claro que para se fazer isso, não basta simplesmente estar lá. Tem que se ter uma vida baseada em valores positivos e princípios compartilhados. Meus irmãos tem sido uma ótima referência, todas estas pessoas lindas que Deus me deu.
J Proteção – Só Deus pra nos dar proteção integral, contra todos os males visíveis e invisíveis deste mundo. Só mesmo Ele pra nos proteger das ciladas do mal, e dos erros que podem nos levar pro fundo do poço. Mas Ele nos dá pessoas que nos protegem de muitas coisas das quais não escaparíamos sozinhos, tais como desânimo, uma baixa auto-estima, solidão e também de nossa cabeça quente e da pressa que temos para tomar decisões em momentos errados. Uma irmã querida e um irmão amado nos protegem de muitas escolhas incorretas, de muitas atitudes impensadas, e também da presunção, quando nos mostra, do seu jeito, que existem coisas que podiam melhorar muito dentre aquelas que fazemos. E como este texto é para irmãos que já me protegeram muito nestas questões (mesmo que eles não lembrem e estejam se perguntando agora quando aconteceu isso), não posso deixar de mencionar que isto é uma coisa muito boa em se ter irmãos especiais.
J Conselhos – Preciso declarar que uma das coisas boas de se ter uma irmã que se preocupa sinceramente comigo, de ter um irmão que sabe bem o que se passa em minha cabeça, são os bons conselhos que recebo. Sugestões, idéias, um “porque você não faz assim...” foram muito importantes pra que muitas coisas de que eu me ocupava dessem certo. E como a gente não consegue saber de tudo, um conselho na hora certa ajuda muito, muito, muito. Se você quer ter bons conselhos, dados por alguém que gosta de você, uma das melhores formas é tendo uma irmãzinha, e ouvindo seu irmãzão... Sou grato a Deus por eles.
J Alguém a quem dirigir carinho – Tem momentos em que a gente quer exercitar o coração, fazendo valer o amor que aprendemos a ter com Deus. Neste momento ter pessoas valiosas a quem direcionar nossos atos, para quem demonstrar que amamos é fundamental. Existem muitas pessoas em nossa vida, e por isso muitos tipos de carinho. Dirijo carinho a minha esposa, e também muito para minha mãe. Tenho um irmão, e aí a gente faz isso de forma completamente diferente, ajudando a construir algo, indo junto a algum lugar... Amor materno, amor filial, amor eterno e amor fraterno... Minhas irmãs e irmãos tem sido as pessoas que dá vazão ao amor fraterno que carrego comigo. A questão do dar carinho só é bem resolvida quando a pessoa o aceita, de coração aberto. Quando valoriza os  esforços que fazemos para       agradar, e agrada-se não do que tenhamos feito muitas vezes, mas do simples fato de que  fizemos. Meus queridos irmãos e irmãs tem sido assim, receptivos ao meu carinho desajeitado, pacientes com meus métodos atrapalhados de demonstrar que gosto muito, muito, muito deles... Dar carinho é só a primeira parte... ter uma   pessoa a quem direcioná-lo e que o   mereça e que saiba receber, nos valorizando e também retribuindo é uma das fantásticas coisas  em se ter uma irmã que te escolheu ou um irmão que te aceitou sem reservas...
J Observadores – Não do seu comportamento, mas do espaço que você ocupa. Quem vê de fora sabe melhor do que nós mesmos a forma como estamos nos relacionando com as pessoas e com os acontecimentos. Quem olha por outro prisma tem uma ideia bem mais clara de como somos e de como deveríamos ser em nosso ambiente. Não quero deixar a responsabilidade toda nas mãos dos outros, é claro. Nós temos o papel fundamental, e precisamos construir nossas relações, nossa estima, nossas certezas e achar o melhor caminho pra realizar e crescer. Mas como todo bom filme tem um coadjuvante que muitas vezes rouba a cena, em nossa vida uma pessoa que se importe em observar e comentar, é fundamental. Meus queridos irmãos tem sido os meus mais caros observadoras. É dessa observação que nascem muitos dos seus conselhos, e também  muito de sua disposição e prontidão em me ajudar não do jeito que eles gostariam, mas muitas vezes do jeito que eu preciso. Claro que tive que “dar umas cabeçadas” antes de entender isso (podia até ter sido mais beneficiado se aprendesse   antes...) mas agora que entendi, vejo que isso é uma coisa  maravilhosa que ter irmãos que nos amam proporciona.
J Amizade, cumplicidade – Acho que quanto a isso não preciso comentar. Fica nas entrelinhas do que já foi dito (e do que ainda será) que isto está entre as coisas mais preciosas deste mundo e do mundo porvir. Precisamos ter pelo menos 5 amigos de verdade, que sejam parceiros e cúmplices de nosso crescimento e alegria. Tenho tido a bênção de ter estes amigos, e entre eles ter aqueles que são irmãos de coração. No mais, todos os que já sentiram o que é ter alguém assim não precisam ler mais nada pra saber do que falo. Só vou frisar mais uma vez que uma forma fantástica de se obter isso é tendo uma irmã de sonho, um irmão de fé, de fato e de coração. Sem mais comentários...
J Respeito – Independente das posses que tenho, da posição que ocupo ou das coisas que fiz. Meus irmãos me ouvem e muitas vezes buscam meu conselho. Minha irmã acata minhas decisões, meu irmão me dá apoio. Reconhecem quando erro, mas dividem bem o erro da pessoa, e não me condenam por ser quem sou, gostar da forma que gosto, me entregar. Aconselham sim, discordam e repreendem (e repreendem de um jeito tão meigo que não dói), mas respeitam. Aceitam minhas escolhas, aceitam meu tempo de fazer e de estar, e compartilham disso. Eles gostam de mim, e sua opinião não depende do que outros acham ou dizem, mas do tempo e do convívio. Eles me defendem por que me entendem e porque me respeitam. Isso é muito importante pra que eu fique em pé em muitas situações. A soma de respeito e encorajamento que brota dos olhos das pessoas que me amam é que forma a base de minhas realizações e coragem. Coisa incomparável que recebemos quando temos irmãos.
J Reconhecimento – Medalha por esforço feito, prêmio por luta vencida, honra por ter começado e acabado. Tem muita gente precisando disto, e infelizmente, muita gente precisando aprender a fazer isso. Tenho sido feliz nesta área, ao ter a grata oportunidade de conviver com queridos amigos que sabem fazer, e fazer bem o exercício de premiar.  Há outros que reconhecem meus méritos e sabem como me reabastecer com isso sem deixar que vire vaidade, ou que aquilo que faço seja mais do que realmente é. Minhas irmã s e irmãos tem sido fundamentais nesta área. E posso dizer que isso não se deve à muita experiência de vida, e nem a  cursos feitos. Eles tem isso em sua natureza. É óbvio que sua vivência foi fator decisivo para que desenvolvessem esse dom,  mas vejo que há neles, de coração, o reconhecer, o premiar com um abraço, com palavras de incentivo aquilo que as pessoas fazem (que mereça louvor) e que  muitas vezes ninguém mais dá atenção, porque reconhecer grandes feitos é fácil, mas estar atento aos pequenos detalhes (que a gente se esmera tanto por fazer) já está em outra escala. Mas seu reconhecimento é tão necessário (e as vezes mais)  quanto o dos grandes eventos de nossa vida. Tenho tido este privilégio, e isto é uma das melhores coisas que ter irmãos nos proporciona.

           
            Boas coisas em se ter uma irmã e um irmão... Não quero que pareça que estou dizendo que todos devem sair por aí e procurar escolher uma pessoa pra desempenhar tudo isso em sua vida, como se fosse uma compra de um produto fantástico. O que quero é simplesmente reconhecer, que mesmo sem procurar, obtive tudo isso. Mesmo sem ter ao menos pensado, Deus me deu o presente de escolher e ser escolhido por pessoas, que além de realizar muitos dos meus sonhos, proporcionam tudo isso.

            O que quero é agradecer, e muito, todas essas coisas boas que ter irmãos especiais me trouxeram. Pode até aparecer alguém que discorde, mas sou obrigado a dizer a esta pessoa duas coisas: 1) talvez esteja discordando por não estar sabendo apreciar, valorizar, se relacionar com seus irmãos, e 2) este texto não tem a pretensão de descrever todas as irmãs i irmãos do mundo, mas aqueles que se doam em especial, o que já explica e encerra a questão. Coisas boas em se ter irmãos pode ser um capítulo único, escrito e vivido por uma única pessoa, que tem tudo isso como bênção. 


            O que há de melhor no sonho é poder vivê-lo. Quando sonhava em ter muitos irmãos, em minha infância, eu sonhava com coisas assim. Viver o sonho é a melhor parte, e saber que ele poder perdurar é melhor ainda. Oro sempre pra que minhas irmãs e meus irmãos sejam cada vez mais especiais e felizes, e para que este sonho perdure muito e muito...